sexta-feira, 6 de janeiro de 2012

O (Maravilhoso) Guia do Nonsense


Para quem sempre se questionou "Porque é que um corvo se parece com uma secretária?" ou simplesmente se interessa pelo nonsense escrito, fica aqui um tratado da minha autoria sobre o assunto:

O nonsense é, por si só difícil de explicar e defenir, dada a sua própria natureza, mas para o que nos interessa, o nonsense literário pode (na minha opinião) ser caraterizado por simultaneamente seguir todas as regras da construção frásica, concordâncias, etc e ter um significado (ou não) absurdo ou insólito.
Excluem-se assim palavras e letras ao acaso, e aproximamo-nos do absurdo e imaginação de textos como os de grandes referências do género (se é que isso se lhe pode chamar), como Lewis Carrol e Dr. Seuss.
No entanto, descrever ideias excêntricas e mirabolantes é tão ou mais difícil que uma qualquer outra descrição rica daquilo que normalmente se sente ou observa, por isso e após  ter sido questionado diversas vezes sobre o assunto decidi escrever o meu guia para o Nonsense, um método para o caos: assim seguindo três passos chega-se a um resultado no mínimo surpreendente (para não dizer louco)
1- Começa-se por enumerar uma lista de objectos/ locais/ conceitos e adjectivos que os caracterizem, exemplificando:
A- A mesa geométrica
B- O mar azul
C- O mel doce
D-  A chávena quebradiça

2- A cada um destes objectos associa-se agora uma acção que lhes seja lógica, podendo também acrescentar-se um interveniente, nesse caso pode-se já inserir um elemento estranho ao contexto da frase. Passo a exemplificar:
A - A sereia escrevia sobre a mesa geométrica
B- Os ventos sopravam sobre o mar azul
C- O raio de luz brilhava dentro do mel doce
D- Alguém bebia pela chávena quebradiça

3- Agora é que a magia acontece: Começa-se por dividir as frases nos seus elementos constituintes, e em seguida trocam-se os de umas com os seus semelhantes das outras, mantendo o objecto que se escolheu inicialmente, e fazendo as modificações necessárias para que a frase esteja bem construída. Ilustrando o processo:

A - A sereia escrevia sobre a mesa geométrica
B- Os ventos sopravam sobre o mar azul
C- O raio de luz brilhava dentro do mel doce
D- Alguém bebia pela chávena quebradiça

A -  Alguém bebia a mesa azul
B- O raio de luz brilhava dentro do mar geométrico
C - A sereia  escrevia sobre uma chávena doce
D - Os ventos sopravam sobre o mel quebradiço


O resultado é confuso - se bem que não se escreveu nada de errado, nada parece, pelo menos de imediato, fazer sentido. Eis um bom ponto de partida para uma narrativa, um poema, um diálogo ou até uma adivinha sem resposta.

Claro que não se pode reduzir o nonsense a um método destes: para já a sua própria natureza vai contra métodos e convenções, e depois, cada um tem a sua imaginação e criatividade, e assim criará ideias completamente diferentes de outro que siga o mesmo método. Porém, é uma boa fundação sobre a qual se pode então erguer um castelo periclitante do inesperado!

Outras técnicas eficazes são:


Inventar novas palavras, ao acaso (fafarisco) ou recorrendo á formação de palavras (brilho + luminoso = brilhuminoso)


Subverter/ alterar provérbios, expressões populares ou textos conhecidos (Exemplo: Dragão a dragão enche a nuvem o saco)


Criar diálogos sem sentido, com perguntas e respostas por vezes sem ligação e mudanças súbitas de tema de conversa.


Em grupo, cada pessoa escreve um parágrafo, tapa o texto menos a última frase e passa a folha ao seguinte, que deve dar-lhe continuação sem ver o que está para trás, e assim sucessivamente até todos terem escrito pelo menos uma vez.


Seja como for, o resultado será o reflexo do artista, infinitamente original e dotado de uma sensibilidade que se apresenta para além da compreensão dos leitores!